segunda-feira, 18 de maio de 2009
Eu não sabia
Quando era criança, não tinha a mínima noção desse vai e vem da vida
Desse nascer, crescer, partir
Desse “jaz” dos entes queridos, dos amigos do coração
Desse “não me diz respeito” dos omissos e covardes
Desse “não me envolvo” dos medrosos e incapazes de se apaixonar perdidamente
Quando ainda uma menina eu era, nem imaginava
Que como a roda gigante do parque de diversões, minha vida passaria por meus olhos da mesma forma que o mundo ao redor do imenso brinquedo
Que como o tempo dava gosto ao charque sobre o fogão a lenha, ele daria conta de fechar as feridas do meu coração
Quando descalça eu corria pelas ruas da pequena cidade
Eu nem imaginava que não mais brincaria com as estrelas, e me esqueceria de olhar o céu como fazia nas noites frias da longínqua fazenda
Não imaginava que diria e ouviria palavras cortantes como o canivete que cortava a goiaba do quintal do velho rancho de palha
Nem que temeria as atitudes humanas como temia ver o lendário lobo – guará, de passeios noturnos, grande e forte como minha imaginação
Quando ainda criança eu era
Não imaginava que me perderia entre palavras e sentimentos difusos, nas dispensáveis complicações dos adultos que não sonham mais
Que o espelho não refletiria mais aquela menina sonhadora, de olhos brilhantes
Não sorriria das minhas tolices
Não tomaria banho de chuva
Não mais esperaria o príncipe encantado quando o sol se escondia
Ana Paula Almeida
19-05-2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Versos de liberdade
Se soubesse poetar....
Se soubesse poetar....
Escreveria libérrima
Trataria logo de fugir
Trataria logo de fugir
Carregaria comigo
O jogo livre das palavras que libertam
Brincaria com os vocábulos
Faria metáfora a cada olhar
Se soubesse poetar...
Leria pensamentos
Estudaria sentimentos
Para depois brincar
Ironizar com as palavras
Se soubesse poetar...
Me daria a alforria
Dos dias monótonos
Me libertaria da mediocridade
Dos meus egoísmos e narcisismos
Se soubesse poetar...
Daria um chute na solidão
Chamaria de tola a tristeza
Se soubesse poetar...
Tomaria só para mim
Entorpecidos de paixão
Os amores que desejei
E os que me rejeitaram
Se soubesse poetar....
Seria a princesa dos contos
Rainha do meu carnaval
Ana Paula Almeida
16-05-2009
Companhia
O instante noturno
É parte de mim
E parte de mim
O noturno instante
E as palavras de solidão
São parte de mim
E parte sempre de mim
A solidão que tem as palavras noturnas
E se sou verso
Logo, sou solidão
Se sozinha estou na confraria de amigos
Talvez porque sozinha sempre estive desde menina
A solidão,
Descobri:
É parte de mim
E parte de mim
Ana Paula Almeida
16-05-2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Aprumar
Levante menina,
Acorde, vá!
Levante e vá ver o sol
Perceber sorrisos
Levante garota!
Saia de si
Abandone a melancolia
Chute a depressão para longe
Ande, acorde, cante
Se ele não está na sua
Esteja na rua
Garota de Ipanema
Notada com seu brilho
Encantadora em suas virtudes
Sonhe garota!
E se outra ele tem
Deixe a liberdade entrar por sua porta
Permita-se a alegria de se conhecer
Venha menina!
Tire do rosto o semblante de fracasso
Espere o acaso...
Ele sempre presenteia
Liberte-se!
Liberte-me!
Ana Paula Almeida
11-05-2009
Ana Paula Almeida
11-05-2009
sábado, 9 de maio de 2009
Sem resposta
E se de mim brotam versos
Sem formato, palavras rebuscadas, metáforas
E alheios aos gêneros poéticos
E moldes das poesias dos grandes
Explicar o motivo, não sei!
O que posso dizer é que
A solidão se faz presente sempre
Impiedosa e inconveniente
Fica ali à espreita, recôndita
Como cobra que prepara o bote
Traiçoeira solidão
E se minhas palavras, provenientes do desabafo incontrolável e latente
Prosa ou poesia poderiam ser, realmente não sei!
Sei sim da necessidade de externar o que corrói me por dentro
Inquieta a alma e me faz sentir alívio, dor, amor, alegria...
Um turbilhão de sentimentos difusos,
Que me deixam perdida, vendida
E se ao som de Bach sentimentos
Desconhecidos se apresentam insistentes
Me pergunto em que momento dos poucos anos vividos
Permiti que me acompanhasse a melancolia incessante ?
Se palavras que não aprendi na escola saem dos meus dedos
O gosto pela poesia e o hábito de isolar-me presentes estão,
Não tenho a competência de entender e explicar
Como ou porque de mim saem versos!
Ora de mel, ora de fel
Se nas quadras da infância, não fui apresentada a poesia
Nos tempos da adversidade, contato não tive com a literatura
E muito menos me foi explicado que algumas almas, desse mal delicioso sofrem
Como poderia eu, explicar o porque de mim saem versos,
Naturais como a gostas de suor na face?
Como explicar a necessidade de poetizar,
Escrever versos advindos do eu desconhecido e solitário,
Sem estilo, moldes e repertório poético?
Me inquieta a não-resposta de tais questões
O gosto pelo que não me foi ensinado
Escrevo, não sei por quê
Enxergo poesia na vida e por isso,
Sinto gozo, tristeza
Mas o que me inquieta mesmo,
É esse sentir,
Sem porque, sem pedir
É sentir a poesia da vida,
Solitária e incompreendida
Entre quatro paredes,
Como se a esse mundo ácido eu não pertencesse!
Ana Paula Almeida
09-05-2009
Últimos desejos
E se de tudo que poderia ser
Pudesse escolher miúdos e simplórios presentes
Escolheria sorrisos de alma
E beijos de carne
Sorriria libérrima para os de alma podre
Beijaria a vida que não posso ter como se a tivesse
E se ainda me fosse oferecido, mesmo que por misericórdia
Um último presente
Escolheria sentir o frio na barriga frente ao amor impossível
Sentir, mesmo que por segundos, o gosto da paixão que liberta a alma!
Ana Paula Almeida
09-05-2009
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Paixão de um dia
Oi...
Ele dizia enquanto ela queria dizer
Como era bom tê-lo ali
Oi...
Ele disse após permanecer nela
E deixar seu cheiro indescritível
Oi...
Ele falou sem mais a dizer
Enquanto ela sem fala o fitava
E o homem-criança de alma nobre
Se foi e lá ficou seu cheiro de criança grande
Efêmero como cheiro de terra molhada
Ele foi sem mais dizer
Inefável!
Ana Paula Almeida
07-05-2009
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