
Eu não sabia
Quando era criança, não tinha a mínima noção desse vai e vem da vida
Desse nascer, crescer, partir
Desse “jaz” dos entes queridos, dos amigos do coração
Desse “não me diz respeito” dos omissos e covardes
Desse “não me envolvo” dos medrosos e incapazes de se apaixonar perdidamente
Quando ainda uma menina eu era, nem imaginava
Que como a roda gigante do parque de diversões, minha vida passaria por meus olhos da mesma forma que o mundo ao redor do imenso brinquedo
Que como o tempo dava gosto ao charque sobre o fogão a lenha, ele daria conta de fechar as feridas do meu coração
Quando descalça eu corria pelas ruas da pequena cidade
Eu nem imaginava que não mais brincaria com as estrelas, e me esqueceria de olhar o céu como fazia nas noites frias da longínqua fazenda
Não imaginava que diria e ouviria palavras cortantes como o canivete que cortava a goiaba do quintal do velho rancho de palha
Nem que temeria as atitudes humanas como temia ver o lendário lobo – guará, de passeios noturnos, grande e forte como minha imaginação
Quando ainda criança eu era
Não imaginava que me perderia entre palavras e sentimentos difusos, nas dispensáveis complicações dos adultos que não sonham mais
Que o espelho não refletiria mais aquela menina sonhadora, de olhos brilhantes
Não sorriria das minhas tolices
Não tomaria banho de chuva
Não mais esperaria o príncipe encantado quando o sol se escondia
Ana Paula Almeida
19-05-2009