domingo, 25 de abril de 2010



Mar de dentro


Palavras miúdas
Intimidade ociosa
Conhecedora de nadezas
[nada sei,só quero ser,só o ser]

Assim me encontro
[Inverso, in verso, em versos]
Quando o baile termina
A fantasia me cansa

Caio em mim
Queda livre
Despenco sem jeito

O cardíaco acelera
Já havia a espera
Desse momento sublime


Me encontro em mim
Ah, deliciosamente me acompanho
Inteira, intensa, verdadeira


A madrugada cessa
O sol me apressa
E quase não retorno

Um dia não volto
Permaneço, enlouqueço
Bem dentro de mim


Será assim, partida sem volta
Mergulho dentro, sem resgate
Nadando no meu ser
[mar de dentro]

Não voltarei, vocês vão ver!


Ana Paula Almeida



De lado


Um coração ali no canto
Pronto para o depois

O depois dos compromissos
Do objeto adquirido e pago

Depois do que há de mais racional
Após as fases críticas

O coração ali,
Quieto num canto qualquer

Ele espera!
Ah, ele espera sim

Não é hora para amar
Se envolver

Deixa isso pra lá
Aguardando tempo confortável

Passe mais tarde,
Sentimento inconveniente, intruso

Ora, essa não é a hora!
Sem envolvimentos afetivos

Anos, dias, horas
O coração virou decoração daquele canto

E ali, bem do lado
O remédio estacionado

Necessidade da idade avançada
Remédio que não tira a dor do peito

O ancião ficou irado
Arrependimento, depressão...

O médico falou em coração
Logo esse?

Poupado, colocado num cantinho
Durante todo o seu caminho



Ana Paula Almeida
Ser

Ah, se jogue!
Vá lá
Sinta corações


Moço infeliz
E o que diz?
Medo, reservas?


Moço, moço
Se permita
Sinta


Ame
Odeie
Grite!


Esteja aí nesse peito
Habite-o com teu melhor
O mais intenso de ti


Moço, moço
As coisas, crises,amores
Se vão,se vão

Grite, meu rapaz!
Diga a que veio
Tens um coração

Permita-se
Ame-se
Sinta,sinta,sinta


Não permaneça assim:
Sem ti



Ana Paula Almeida

terça-feira, 13 de abril de 2010





Por um triz

Ele quase começou
Quase falou
Quase se permitiu
Por pouco não sentiu

Depois, quase se jogou
Quase se declarou
Quase se apegou
Quase amou

Ela,obediente como sempre
Quase ficou
Permaneceria não fosse o desejo de ser amada
Após os quases,completamente

E ele por um triz
Não foi feliz


Ana Paula Almeida




















Outros olhares

Eu inteira
Ele pedaço

Eu já
Ele quase

Ele espera
Eu me acho

Eu me jogo
Ele calcula

Ele analisa
Eu anseio

Eu passo
Ele não sente


Ele reservas
Eu incêndio

Me jogo
Ele reflete

E enquanto permaneces no quase
Eu sem ti

**********


Eu na tua
Tu em outra

Eu na lua
Tu me vês nua


Eu coração
Tu indecisão

Eu parto
Tu não vês

**********


Dispo anseios
Desejos de amor terno
Jogo palavras sentidas
Sentimentos de vida
Ele vê
Minhas curvas
A roupa caída
As pego no chão
E parto com minha solidão
Sentir não é com esse João!

***************

Hoje sonhei tão alto
Que levitei ao acordar
Do partido alto ao altar
Decidi então me aprumar
Vai que eu goste de lá



***************

Incompreendida sempre fui
Da família aos amores
E isso é morno
Bom mesmo foi quando fui persona non grata
E pensei: isso ainda me mata

*******************

A minissaia
Dispensou palavras gentis
Deixou de lado as discussões filosóficas
Idéias e ideais prolixos
Foi quando ele quis
Que ela fosse atriz
E esquecesse o texto
O resto foi contexto

******************


Eu não sou nada disso que está pensando
Mas não me interessa te provar o contrário
Pois me vês
Exatamente como eu gostaria de ser
Prefiro a ilusão do meu avesso


***********************


Seus dedos vieram me dizer
Que não lhe interessa sentir
Tatear é o seu prazer
E eu, propositadamente
Finjo que não entendi
Inconsequente, me entrego a ti


*******************

Já entendi
Sem amores e afins
Mente sem conexão ao coração
Interessa o lugar da mão
Se amores ficam ou vão
É uma outra questão


********************

Coração escondido
Mascarado, amuado
Prazer revelado
Medo escancarado
O desse moço tarado



******************

Fico aqui,
Espectadora das tuas reticências
Até que eu perca a paciência
O faça pagar penitência
Sarar dessa doença
Ou, simplesmente
Partir sem clemência





Ana Paula Almeida

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Palavras souvenirs

Carrego no bolso algumas frustrações
E na alma, a vontade de partir
O peito é hotel de emoções indisciplinadas
Posso ainda errar, mas posso também voar


Tentar tocar um coração com reservas
Mas também conhecer mais o meu, destemido e incorrigível
Amar quem não me ama,
Mas também ensinar o caminho da permissão
Posso até não ser o que desejei

Mas posso, ainda ser a que me satisfaz intimamente,
Bem lá no fundo, naquela parte de mim que só eu visito
Com entrada vip, conhecedora daquela que não fui, mas que desejei
Mesmo diante do improvável sensato,
Da impossibilidade real



Ainda não conseguindo ser o que esperaram de mim,
Tenho aqui, guardados como souvenirs segredos singulares
O que afaga a alma, dá o brilho efêmero e indizível aos olhos
Desta sonhadora que sempre fui e serei



Tenho em mim a solidão companheira desde as quadras da infância
Que me faz repousar em versos tristes e libertadores
Uso de palavras afrodisíacas para o meu prazer mais solitário
Ainda aqui, bem dentro de mim



Trago comigo o silêncio necessário a sapiência que tanto almejo
Solidão que nenhum namoro ou casamento poderão levar
Se ainda não me alcancei, não sei
Sei que permaneço Fernando Pessoa,
Tendo em mim todos os sonhos do mundo




Ana Paula Almeida






Permaneço


Não, dessa vez não fugirei
Fico e provo seu veneno
Permaneço em ti

Agora sem a tentativa de ser incrivelmente moderna
Ou antiguíssima caçadora de emoções
Dou lugar agora ao silêncio, ele fala!

E se teu silêncio me disser “pode entrar”
Ou ainda, “não é a hora”
Espero sim a resposta

Não, não saio de cena sem atuar
Se romance, comédia ou drama
Só saberei no fim do espetáculo

Faço-me platéia!

Ana Paula Almeida